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Aurora, Ceará, Brazil
Músico licenciado do curso de Música da Universidade Federal do Ceará - Campus Cariri.
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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Saudade: atendendo a convite, Zé Melé foi cantar no céu

Por José Cícero¹

Faleceu no dia 15 de março em São Paulo onde estava para tratamento de saúde e em visita a familiares, uma das nossas figuras populares mais querida e emblemática. Trata-se do inesquecível e alegre ZÉ MELÉ.
Zé Melé foi talvez um dos nossos últimos espécimes – daqueles que no passado no nosso interior dava-se a denominação de “gente do povo”. Era reconhecido onde quer que passasse até mesmo em algumas das nossas cidades circunvizinhas. Com uma barba sempre farta e mal tratada, esbranquiçada, um caminhar lento e compassado talvez pelo tamanho da sua estatura; o nosso Zé também carregava a tiracolo quase como uma extensão do seu corpo, um rádio de pilha. Além do seu inseparável cavaquinho. Não era um tocador exímio do instrumento como se podia imaginar, mas aprendeu a dá alguns acordes, o suficiente para improvisar as canções que mais gostava; de preferência as da velha guarda, do brega e do Pinduca. Dono de uma voz não muito apropriada para o canto, mesmo assim Zé Melé tinha uma verdadeira paixão pela música. De tal maneira que se achava um bom cantor e o fazia quase sempre nas suas bebedeiras com os amigos. Quando não estava com seu radinho de pilha ligado, como se fosse um carro-de-som pelas esquinas; era também possível encontrá-lo quase sempre dedilhando o seu velho cavaquinho. Cantando com seus agudos uma gama de canções melodiosas sempre a pedido dos transeuntes. Por onde quer que chegasse fazia a alegria dos presentes. Por onde passava deixava um rastro de animação... era por assim dizer, um verdadeiro mascate da alegria ambulante. Além de um boêmio, também era dado ao trabalho. Sua boemia estava sempre reservada aos finais de semanas, feriados e às festas municipais.
Seu ofício, mesmo em sua idade avançada era quebrar pedra à marteladas para a feitura da matéria-prima do concreto para construção. Uma tarefa árdua e penosa, principalmente para um senhor daquela idade. Entretanto gostava do que fazia e o praticava com prazer e esmero. Na semana era possível vê-lo com sua marreta e uma borracha de pneu, os principais instrumentos do seu trabalho. Seja com o sol a pino ou mesmo nas invernadas sempre o víamos na sua ‘oficina’ - uma modesta barraquinha de palha nas pedreiras do Poço do Meio às margens do Salgado. Depois, decerto pelo peso da idade, instalou sua latada às margens da linha férrea, tanto no Alto da Cruz quanto nas proximidades do antigo matadouro já nas imediações do Araçá. A vida do velho Zé foi sempre de pedra, como de pedra e granito foi sempre sua lida, sua faina de viver as coisas do mundo sem muitas preocupações ou estresse. Quebrando pedra e tocando seu "cavaco" Zé Melé provou-nos que, por mais dura que sejam as dificuldades haverá sempre uma maneira de afastar todas as pedras do caminho.
O vi por diversas vezes carregando sua lata de querosene ao ombro cheia de pedras, as sobras do calçamento da Cícero José do Nascimento. Pedras que seriam uma a uma fragmentadas sob as pancadas vagarosas e certeiras do Zé Melé. Era de fato um ofício para gente forte e corajosa.Seu principal combustível – uma cachacinha que mantinha pronta sempre ao alcance da mão. Foi um 'apreciador' inveterado da branquinha. Aos domingos gostava de acompanhar o futebol local no ‘Romãozão’. Ocasiões em que o rádio e o cavaquinho tinham um lugar garantido. Peregrinava pelos bares tocando seu cavaquinho e cantando suas canções favoritas... no final instigava o freguês sempre a lhe pagar uma cachaça. Também gostava de bebiricar pela feira-livre de Aurora.
Ainda em 1989 lembro do Zé participando do Festival da Canção na ABA, incentivado que foi pela platéia entusiasmada chamando seu nome num frenesi... mais pela gozação do que pela música que ele cantava – a Volta do boêmio de Nelson Gonçalves, com transmissão ao vivo da rádio Vale do Salgado AM. No final, para a surpresa e a alegria de todos, Zé Melé abiscoitara o segundo lugar. Foi literalmente ovacionado pelos presentes. Uma conquista consagradora. Recordo da felicidade do Zé ao receber sua medalha, o troféu e a premiação. A entrevista aos radialistas: Barbosa Filho e Furtado Guedes. Saiu da ABA como se fosse um ídolo popular. Durante anos carregou sua medalha ao peito até perdê-la(não se sabe onde), disse-me certa feita ele, um tanto quanto desolado.
Outra vez, quando participávamos com a seleção de Aurora da Copa Difusora em Cajazeiras-PB o Zé com aquele seu jeitão moroso nós pediu permissão para também ir conosco. O que foi prontamente atendido. Foi a animação do nosso ônibus. Cantou e tocou seu cavaquinho a viagem inteira, tanto de ida quanto de volta. Mais de ida, porque na volta estava mais pra lá do que pra cá. Havia bebido além da conta. Zé Melé foi a atração da concentração, às ruas de Cajazeiras até nas arquibancadas do estádio 'O Perpetão'. Ficamos em segundo lugar na competição, mas Zé Melé não se importou muito com o resultado... Comemorou com seu cavaquinho como quem comemorava a conquista de uma copa do mundo. Aquela cena foi-me algo inesquecível.
Vi a tristeza que se apoderou do nosso Zé quando roubaram o seu cavaquinho. Nos últimos tempos, mesmo depois de conseguir se aposentar, Zé Melé não era mais o mesmo. Faltava-lhe algo. Talvez a antiga alegria e o entusiasmo que o seu parceiro-cavaquinho tanto lhe proporcionava. Não sei quem fez tamanha maldade em surrupiar-lhe aquele instrumento quase sagrado. De uns tempos para cá não havia mais lhe visto como antes, amiúde. Agora de súbito fomos informados que o nosso Zé partira para o andar de cima. Foi-se sem ao menos se despedir dos aurorenses, vez que falecera(dizem de uma cirurgia) na distante São Paulo onde possuía alguns parentes.
Mas digamos ao menos que o Zé Melé não morreu... Apenas foi atender um chamado de São Pedro para tocar seu cavaquinho lá no céu ao lado de Deus.
"De onde é que esse coco vem/Todo coco tem azeite/Mas esse não tem (Bis)/O braço do mar não tem cotovelo/O caranguejo anda/Mas não é pra frente/Revolver tem cano mas não é torneira/Cachaça não dá rasteira/Mas derruba gente/O prego tem cabeça mas não tem juízo/O cabo da vassoura/Não prende ninguém/A mão de pilão nunca bateu palmas/Agulha costura e só anda nua/Na estradaque vai pra lua/Não se vê poeira/O trobonista toca com a boca fechada/O sino toca com a boca aberta/Quem roubar ladrão eu jamais acuso/Mulher não é parafuso/Mas agente aperta." Esta música do Pinduca, intitulada 'Coco Sem Azeite', era uma das favoritas cantaroladas por Zé Melé pelos bares e esquinas da Aurora. 
Zé Melé - 15/08/38 - 15/03/2009. 
¹Secretário de Cultura de Aurora-CE
Foto: Zé Melé recebendo a medalha das mãos da saudosa professora Evandra 1990.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Quando a Banda Passar.: Por Luiz Domingos de Luna



A História humana é permeada pelo acúmulo de conhecimentos do passado, a ação do presente, não muito raro, a visionários que a força elástica do futuro por razões que estão na intimidade do ser dão o pontapé inicial ao vindouro.

No distante ano de 1981, quando a cidade de Aurora ainda patinava no formato de sua infraestrutura, todo o arsenal para a civilidade urbana, ainda um sonho a bailar na mente dos otimistas, lá vem àquela forte figura, contrariando a tonalidade do presente, a colocar a pedra última do triangulo da civilidade aurorense – A Banda de Música do Senhor Menino Deus, como uma escola a levar o facho da luz a uma juventude de múltiplas carências, ainda no processo de construção da base piramidal.

Quem viveu o momento sabe que o sonho do humanizador social, ativista cultural, e sacerdote na expressão maior – Padre Francisco França – tinha um quê de Utopia, vez as colunas mestras de desenvolvimento social ser também uma utopia, na verdade, tudo era utopia mesmo, assim a do padre, era mais uma no oceano de inúmeras.

No dia 29 de abril de 1982 fui convidado para receber os instrumentos musicais na casa Paroquial, vez a solicitação do padre ter sido atendida prontamente pelo Ministério de Educação e Cultura. O Momento foi registrado por um grande paradoxo, ora, a cada instrumento que conferia um grito de emoção, lágrimas de felicidade que tocava suavemente o chão, como se existisse também uma alegoria na força gravitacional terrena.

Tudo para mim era motivo de felicidade plena, o cheiro dos instrumentos, os caixotes, a embalagem perfeita, na verdade tudo perfeito.

Quando dei conta de minha emoção plenamente exagerada, olhei ao lado e vi o idealizador da obra taciturno, triste, com uma dor na alma, uma expressão quase que fúnebre, ficou logo claro o descompasso espiritual entre mim e o arquiteto do projeto. Uma situação emblemática, uma dialética soava no ar, parecia ser um sonho realizado para mim e uma decepção para o padre.
Diante desta situação vexatória e paradoxal, confesso que para mim um pouco constrangedora, enxuguei as lagrimas de felicidades e entrei na atmosfera da dor espiritual que acometia meu mestre.
O Meu fluxo pensamental em pane, pois como conciliar a minha emoção contagiante com a tristeza espiritual marcante do momento. Pensei, devo estar agindo errado nesta situação, - esta minha alegria deve ser falsa, ou eu estou enganando a mim mesmo, Como pode? Pois eu sabia plenamente que a tristeza do padre era verdadeira, nunca passou a idéia da tristeza do mestre ser falsa, vez a sua integridade moral está acima da minha a anos luz!
Assim criei coragem e perguntei:

- Padre França por que tanta tristeza?

-Porque estou pensando -

- Como assim?
Será se daqui a 30 anos terão jovens para tocar estes instrumentos ou a ferrugem vai tomar conta deles.
Padre, a ferrugem tomar conta dos Jovens?
Não – Eu pensei dos instrumentos musicais.
Tombei na coluna do silêncio e não falei mais nada.

sábado, 25 de junho de 2011

MOVIMENTO PELA DIVERSIDADE MUSICAL NA MÍDIA - Por: Dihelson Mendonça

 
Somente com a união de todas as pessoas que gostam da música de qualidade no Brasil, conseguiremos vencer o "Cartel da Mídia" que mantém o monopólio do forró de plástico 24 horas por dia nas estações de rádio. Estou recrutando cada pessoa de bom gosto musical, cada cidadão que odeia a baixaria representada pelas bandas de forró; Cada um que curte outros estilos, para que juntos formemos uma frente, um movimento organizado que estou denominando inicialmente de "Movimento Pela Diversidade Musical na Mídia" para as estações de rádio possam voltar a tocar estilos variados de música, rompendo esse monopólio de porcarias estabelecido. Como sabemos, o percentual de pessoas que apreciam música de qualidade é muito superior aos que gostam de música ruim, mas somente a música ruim tem espaço no Rádio, porque um grupo econômico criou e mantém há 2 décadas uma estrutura perversa que visa apenas ganhar dinheiro fácil às custas da massificação.

A ESTRUTURA DO SISTEMA

Ao contrário do que muitos pensam, o monopólio do forró de plástico na mídia não é um elemento passivo. Não caiu no gosto do povo por mero acaso. É fruto de uma estrutura cuidadosamente planejada nos anos 90 por um grupo de empresários visando o ganho de dinheiro fácil dos incautos pela exploração e pela massificação. O objetivo primordial deles é manter o forró de plástico ativo 24Hs no Rádio, impedindo outros estilos musicias e garantindo público nos eventos:


O sistema é formado basicamente por 3 elementos que trabalham de forma organizada e sincronizada:

01 - Proprietários de bandas de forró de plástico ( gravadoras ) - A coisa toda é feita visando a exploração da baixaria, da vulgaridade, do estímulo ao alcoolismo e da prostituição, com letras pobres que apelam para os instintos primitivos enquanto se investe no visual, tornando a música um fator secundário. Arte não existe. Abusa-se do mau-gosto, e garantem-se espaços nas estações de rádio com uma estrutura paga, via satélite. Como uma droga de efeito imediato e que não se mantém, é que nem mesmo aqueles que gostam desse estilo aguentam ouvir a mesma música por muito tempo. O sucesso é passageiro, como o efeito de qualquer outra droga. O lucro não é obtido na venda de CDs, que são vendidos nas lojas por um valor simbólico e são muitas vezes doados em esquinas como promoção para arrebanhar público para os shows. Usam as gravadoras apenas como elemento de produção, sendo que o lucro real vem da venda de ingressos nos shows. A tática é oposta ao modelo vigente nas grandes gravadoras do país, onde lança-se o artista para vender o produto. Aqui, a gravadora serve apenas para reforçar e amparar o sucesso. A música pode até ser gravada ao vivo, no próprio show, pois descobriu-se que o público alvo não tem intelecto suficiente para distinguir a qualidade da gravação. O objetivo é promover a participação do público, sobretudo gritando nomes de determinadas pessoas nos shows, que levarão os CDs para tocar para os amigos. Na maioria dos casos, uma mesma música é gravada por várias bandas ao mesmo tempo.

02 - Estações de Rádio - Em conluio $$$$$ com as bandas de forró de plástico para massificar a população, elas é quem preparam o GADO ( público ) para as vendas dos ingressos nos eventos garantindo a publicidade antecipada, a fim de levar a massa como gado ao matadouro ( shows ) como se fossem Zumbis. A música, segundo eles, não deve ser artigo para pensar. Pensar, Dói ! - Música seria como qualquer droga, como CRACK e COCAÍNA: Apenas para a diversão fugaz, de fácil apelo, e em associação ao movimento corporal e à sensualidade. O Rádio une-se às bandas de forró para divulgar somente o material fornecido pelos proprietários, minimizando ou vetando quaisquer outras formas musicais, garantindo assim o monopólio e a massificação e preparando o povo para o principal: a venda de ingressos em shows.

03 - Proprietários de Casas de Shows - Aqui é onde realmente desemboca o grande filão do dinheiro. Visando lucro fácil, entram na jogada, abrindo os espaços para o material que já foi divulgado e massificado por meses nas estações de Rádio e em acordo com as bandas de forró. Em época de eventos, as bandas que irão participar se intensificam nas estações de rádio, tocando principalmente as que participarão, e retirando as que não irão participar, tudo preparado cuidadosamente com meses de antecedência e garantindo a participação da massa, que estará preparada a tempo para o dia do shows. Todos lucram no negócio milionário.

RECLAMAR ADIANTA ?

01 - Desde que o forró de plástico ( como é conhecido atualmente o chamdo "forró putaria", desde a intervenção do músico Chico Cesar ) nossa tática de reclamar não tem sequer arranhado a estrutura dos organizadores de eventos, e muito menos sensibilizado qualquer dos 3 pilares do cartel da mídia, que estão agarrados ao OSSO, mas estas reclamações, por outro lado, tem feito surgir muitas bocas indignadas no seio da sociedade ( inclusive crônicas famosas, como a do Ariano Suassuna ). As inúmeras reclamações trouxeram de volta pessoas que gostam da boa música e estavam esquecidas, impotentes frente ao descaso, e foi por essas reclamações que descobrimos outros que pensam iguais a nós, que estão vendo a arte e a cultura irem para o ralo. Portanto, reclamar é bom, sempre foi bom e sempre será uma grande arma nesse movimento.

02 - A nossa estratégia de começar a ganhar os meios de comunicação tem dado certo. Diversos artistas do nordeste, e principalmente do interior do Ceará, além de formadores de opinião se reuniram e foram às estações de rádio tocar aquilo que já não mais se ouvia. Apesar do curto espaço de tempo, estamos reunindo, congregando as pessoas que gostam de outros estilos musicais, e posso dizer pelo que vejo e tenho ouvido, que a quantidade de pessoas que gostam de boa música é maior do que os que gostam de porcaria, só que eles não se manifestam tanto quanto aqueles. Os shows dos bons artistas estão gradualmente retornando, e tem tido casa lotada, prova do retorno da boa música e do funcionamento do Marketing.

03 - Mesmo em Fortaleza, o reduto do Forró de Plástico, é unanimidade que lá esse forró decadente já diminuiu e alguns apostam até que está morrendo. Ainda bem!

O NOSSO MOVIMENTO:

Minha idéia é unir todas as pessoas que gostam de música de qualidade num grande e permanente movimento em direção às artes e à cultura, a fim de quebrar o monopólio de um só estilo de música no Rádio, garantindo a diversidadeartística e cultural. Temos andado muito dispersos nos últimos anos. O inimigo se aproveitou disso e tomou conta dos meios de comunicação. Permitimos literalmente que a raposa invadisse o galinheiro, enquanto ficamos apenas olhando sem nada fazer. Nosso movimento precisa ser direcionado no sentido de ocupar os espaços novamente, dos meios de comunicação em escala Regional, Estadual e Nacional.

Esse movimento organizado, que une todas as mídias de que temos acesso, terá por meta a união de todas as pessoas de bom gosto numa imensa "Corrente do Bem", que fará cada vez mais pressão no sentido de garantir espaços de diversidade na mídia, e consequentemente, formar mais platéia e bom gosto. O nosso público é grande, só está disperso. É preciso reunir essas pessoas dos 4 cantos. A nossa força estará nessa união. Será um movimento lento, porém gradativo e permanente, que espero contar com todos aqueles que não mais aguentam tanta decadência cultural, que não aguentam mais tanta porcaria no Rádio, e que desejam ouvir novamente MÚSICA DE VERDADE. Lançamos hoje a pedra fundamental desse movimento de resgate aos grandes valores; Não apenas musicais, pois a música decadente é fruto de uma sociedade em decadência. Por isso, é preciso investir nos grandes valores que formam o ser humano, que se baseiam sobretudo, na educação, que é o grande pilar da sociedade. Que possamos unir nossas forças, e todos os recursos disponíveis no sentido de cultivarmos o melhor do ser humano, e com certeza, todo o bem virá por consequência.